segunda-feira, 31 de agosto de 2009

E por vezes as noites DURAM MESES

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira
in 306 Poemas que falam de Amor

domingo, 30 de agosto de 2009

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Foi por VONTADE de Deus?

Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a saudade.

Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão.

CORAÇÃO INDEPENDENTE
CORAÇÃO QUE NÃO COMANDO

Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando.

Eu não te acompanho mais
PÁRA, DEIXA DE BATER
Se não sabes onde vais
Porque teimas em correr.

Amália Rodrigues

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O frade e a fraude

Confrade do sim, o frade
se cansou de tanta oração,
e, errando, acertou na vida,
fez-se compadre do não.

Almejou, então, em braseiro
errar todo, de corpo inteiro,
vadiar até perder o missal
e ousar até o pecado imortal.

Desejou não apenas a porção
mas a vida sem proporção
e sonhou exercer-se macho
inclinar todo seu cacho
em mulher de travesseiro
tendo feitiço e sendo feiticeiro.

Agora, sem reza, a si mesmo se reveza
e provando que só o morto não peca
o frade esgotado de benzer
inventou, enfim, o bom ser.

Mia Couto
in idades cidades divindades

Hoje é assim

DEVE CHAMAR-SE TRISTEZA
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa,
Que nem chora nem deseja.

Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a ter.

Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos cheias de pó.

Fernando Pessoa
in
Poesia do Eu


terça-feira, 25 de agosto de 2009

Beijo

Os teus lábios parados eram a noite, o abismo
e o silêncio das ondas paradas de encontro às
rochas. O teu rosto dentro das minhas mãos.
Os meus dedos sobre os teus lábios e a ternura,
como o horizonte, debaixo dos meus dedos.
Os teus olhos entreabertos, os teus olhos e os
teus lábios a aproximarem-se dos meus lábios
a aproximarem-se dos teus lábios a aproximarem-se
dos meus lábios, teus lábios.

José Luís Peixoto
in Gaveta de Papéis

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Espero

No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem esperava em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

Sophia de Mello Breyner Andressen
in
Poesia

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sem ti

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

Eugénio de Andrade
in
Poesia

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Desejo de repetição

O tempo humano não anda em círculos, mas avança em linha recta.
Por isso o homem não pode ser feliz: A FELICIDADE É O DESEJO DE REPETIÇÃO.

Milan Kundera

in A insustentável leveza do ser

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

FIX YOU

When you try your best but you don't succeed
When you get what you want but not what you need
When you feel so tired but you can't sleep
Stuck in reverse.
(...)
Lights will guide you home
And ignite your bones
AND I WILL TRY TO FIX YOU.

ColdPlay
(Fix You)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Eu, eu mesmo...

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.—
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Versos do Prisioneiro (2)

Não é de amor que careço.

Sofro apenas
da memória de ter amado.

O que mais me dói,
porém,
é a condenação
de um verbo sem futuro.

AMAR.

Mia Couto
in idades cidades divindades

domingo, 16 de agosto de 2009

The beggining

you came to this world
to see what i've done
and it's fine
so come and let's START
i'll give you all my heart
this time

Rita Redshoes
(The beggining song)