sábado, 28 de agosto de 2010

sempre a contrariar o universo

Assim, vista de longe,
dir-te-ia
que esta história
só podia ser impossível.
Primeiro, as coisas aconteceram fora de tempo,
ainda que não o suficiente.
Também não ajudou
não termos encontrado o mesmo espaço.
Dos teus cinzentos sóis de Inverno
não era fácil conceber
o azul transparente dos meus mares.
Os teus jogos e os meus
não partilharam as folhas do livro da infância.
Os teus nomes e os meus
soam estranhos às crianças que fomos.
Nestas coisas da vida percorremos caminhos
que não se entrecruzavam.
Um dia até o acaso
deixou de ser perfeito. Talvez apenas um segundo.
Quando muito, um pouco mais.
E como vês,
aqui estamos
a olhar surpresos o nosso encontro
nesta inexplicável obstinação
em contrariar o universo.

Abel Murcia
in Em voz baixa

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

TU ÉS AINDA O MEU RELÓGIO DE VENTO

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.

Mas no tempo subjectivo
TU ÉS AINDA O MEU RELÓGIO DE VENTO
A MINHA MÁQUINA ACELERADORA DE SANGUE
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vento que muda as estrelas

Dias há,
em que o teu sorriso
é uma ilha perdida dentro de mim
e o teu nome
o vento que muda as estrelas
para o dorso das andorinhas.

Dias há
em que procuro os teus olhos
e silenciosamente te digo «meu amor»,
como se eles fossem peixes
e as palavras animais estranhos
capazes de turvar a paz
das grandes profundidades.

Isabel Meyrelles

terça-feira, 24 de agosto de 2010

24



Todas as vidas gastei
para morrer contigo.

Mia Couto

domingo, 22 de agosto de 2010

e tudo recomeça...

Estar contigo ao acordar, ver como
se abrem as tuas pálpebras, cortinas
corridas sobre o sonho, sacudir dos
teus lábios o silêncio da noite para
que um primeiro riso me traga o dia:

assim, amor, reconheço a vida que
entra contigo pela casa, escancara
janelas e portas, deixa ouvir os pássaros
e o vento fresco da manhã, até que voltas
para junto de mim, e tudo recomeça.

Nuno Júdice

domingo, 15 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

So I cross my heart and hope to fly

So I cross my heart and hope to fly
And fuck right off into the middle of the sky
Where no one can find me
Where no one can see
That would be my ecstasy