domingo, 28 de fevereiro de 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

30 dias

O QUE DÓI
É NÃO PODER APAGAR A TUA AUSÊNCIA
E repetir dia após dia os mesmos gestos

O que dói
É o teu nome que ficou como mendigo
Descoberto em cada esquina dos meus versos

O que dói
É tudo e mais aquilo que desteço
Ao tecer para ti novos regressos

Daniel Faria
in Poesia

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ou preciso?

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão-Ferreira
excerto do poema Paraíso in Obra Poética

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

...te repete

...e eu gostava que
soubesses sempre que um lamento dentro de mim
te repete...

José Luís Peixoto

1

Amo-te no imenso tráfego
Com toda a poluição no sangue.
Exponho-te a vontade
O lugar que só respira na tua boca
Ó verbo que amo como a pronúncia
Da mãe, do amigo, do poema
Em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
Dos teus lábios.
MOLDA-ME A PARTIR DO CÉU DA TUA BOCA
PORQUE PRESSINTO QUE POSSO OUVIR-TE
NO FIRMAMENTO.

Daniel Faria
in Poesia

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Confidência

Nas pálpebras
da noite
Chorei
cadências
que me ensinaram
que o Amor Ama-se

Assim teus
Olhos.

Daniel Faria
in Poesia

Inventar de novo

às vezes o amor é inventar de novo
as iluminações de vogar à deriva
É sequestrar o dia É caminhar de noite
numa rua de Roma a comer melancia
É fazer explodir um palácio barroco
É durante a explosão cair numa armadilha

David Mourão-Ferreira
in Obra Poética

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Procuro

Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria
in Poesia

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tu

A luz que vibre
sobre o teu rosto
O mar que oscile
sob os teus ombros
O que me atinge
vem de mais longe

lá dos confins
em que te sonho.

David Mourão-Ferreira


Embrance - Nature's Law

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Poderia

Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.

Daniel Faria
in Poesia

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

One by One

While the mountains stare at the face of the sun, the sky smiles down on everyone. We all wonder what we could have done, we end up passing, one by one.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Mário Cesariny

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade
in O outro nome da terra

sábado, 13 de fevereiro de 2010

You and me together, we could do anything

Hoje

tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

...e nunca deste senão a mim

dá-me alguma da tua pele terra
tu que não me pedes nada e
me apareces de noite vestida de
nudez pele terra e me abres caminhos
para que te conheça dá-me algum
do silêncio que me dás para que
nele te diga pele terra se de noite
me apareces iluminada de muitos
pássaros a nascer e a voar a
nascer e a voar silêncio pele terra
para que te conheça dá-me o que
dás a todos e nunca deste senão
a mim pele terra tu que me dás
os gestos das minhas mãos
a música das minhas palavras que
me dás pele terra esconde-te
dentro de mim

José Luís Peixoto
in A criança em ruínas

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lección de existencia

He aprendido a compartir tu ausencia
con mi sombra, el vacío
que deja el tacto inexistente de tu mano
en al mía, el silencio de tu voz
al otro lado de ningún teléfono,
esa ciega mirada de todos los objetos
que ocupan tu lugar.
He aprendido a dejar de ser tan yo
por ser un poco tú.
Me asusta sentirme rodeado de tu nada.

Abel Murcia

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Dá-me de beber

Vem.
Chega-te aqui.
Bem perto de mim.
Não digas nada.
Olha-me apenas.

Sente-me!

Filipe Paixão
excerto do poema Olha-me in Palavras de mim

All flowers in time bend towards the sun...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CREIO

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E agora?

Nunca pensei que a morte vinha,
Nunca mais me lembrei que era da vida,
E que a vida me havia de vender.
E pequei,
E sonhei,
E sorri,
Sem me lembrar que a morte vinha...

Ary dos Santos
excerto do poema Instante in Obra Poética

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tenho uma caixa vazia

farei do coração uma
caixa vazia, esperarei que se
compadeça apenas com pequenas
ervas e miniscúlos bichos à procura
do escuro e da aspereza da pedra.
e para mais nada servirei.
não serei sensível a coisa alguma e,
sem equívocos, a culpa será
toda tua, porque me disseste que
ficavas mas foste embora
dentro do coração, talvez, de tão
grande aridez, poderá surgir um
amor pela seca existência das
areias...

Valter Hugo Mãe
in Pornografia Erudita