quarta-feira, 23 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

às vezes é trágico

Mais um dia que acabou
Um dia calmo, indolente
E esta pessoa que sou
Sufoca, arde impaciente.

É uma quietude perdida
Uma agitação crescente
Que enche a alma, dorida
Que chora de raiva ardente.

E na garganta se prende
Este nó que vai crescendo
Que me fere, que me exaure
Numa dor que não entendo.

E esta fúria que não pára
Que a quietação apagou
Esta irritação insana
Nesta pessoa que sou,

Tem de recuar, de fingir,
De serenar, aquietar
De disfarçar, de sorrir...
E outro dia começar.

Celeste Pereira
in Bordar a Vida

sexta-feira, 18 de junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

7

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 5 de junho de 2010

Da maneira mais simples

É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.

Eugénio de Andrade
in Sulcos da sede