segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

longe que escava a distância

Sopra um vento entre mim e ti
nascido como todos
quando escavávamos dentro de nós
escavando a distância
foi já tempestade fechada em nevoeiro
hoje é apenas brisa
afrouxada na distância
recebo esse sopro suave como uma carícia
de quem ao largo me acena
enquanto parte
sempre entre nós um vento
ar com que te respiro
enquanto o longe nos escava
a distância.

Ana Viana

domingo, 12 de dezembro de 2010

para perder o medo...

Para atravessar contigo o deserto do mundo,
para enfrentarmos juntos o terror da morte,
para ver a verdade, para perder o medo,
ao lado dos teus passos caminhei.

Por ti, deixei meu reino meu segredo,
minha rápida noite, meu silêncio,
minha pérola redonda e seu oriente,
meu espelho, minha vida, minha imagem,
e abandonei os jardins do paraíso.

Cá fora, à luz sem véu do dia duro,
sem os espelhos vi que estava nua
e ao descampado se chamava tempo.

Por isso, com teus gestos me vestiste
e aprendi a viver em pleno vento…

Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quem dera...

Quem dera que houvesse
Um estado não perfeitamente interior para a alma,
Um objectivismo com guizos imóveis à roda de em mim...
A impossibilidade de tudo quanto eu não chego a sonhar
Dói-me por detrás das costas da minha consciência de sentir...

Fernando Pessoa
excerto do poema A casa branca nau preta

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

DORME

Dorme sobre o meu seio.
Sonhando de sonhar...
No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar.
Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser
O espaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.
Dorme sobre o meu seio,
Sem mágoa nem amor...
No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.

Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não tenho pressa.

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.

Alberto Caeiro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

linha pura do teu rosto

Na orla do mar,
no rumor do vento,
onde esteve a linha
pura do teu rosto
ou só pensamento
- e mora, secreto,
intenso, solar,
todo o meu desejo -
aí vou colher
a rosa e a palma.
Onde a pedra é flor,
onde o corpo é alma.

Eugénio de Andrade

domingo, 14 de novembro de 2010

DANAÇÃO DA ALMA

Não tardará a chegar ao fim
este Agosto que te viu passar
com a luz a teus pés.
Somos eternos, dizias.
Eu pensava antes na danação da alma
ao faltar-lhe o alimento que lhe trazias.
Agora a cidade
vive do peso incomensuravelmente morto
dos dias sem a tua presença.
Deixo a mão correr sobre o papel
tentanto captar o eco de uma palavra, um sinal,
e quem em qualquer parte cintila,
e confia ao vento o segredo da nossa tão precária eternidade.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

.

foram breves e medonhas as noites de amor
e regressar do âmago delas esfiapava-lhe o corpo
habitado ainda por flutuantes mãos

estava nu
sem água e sem luz que lhe mostrasse como era
ou como poderia construir a perfeição

os dias foram-se sumindo cor de chumbo
na procura incessante doutra amizade
que lhe prolongasse a vida

e uma vez acordou
caminhou lentamente por cima da idade
tão longe quanto pôde
onde era possível inventar outra infância
que não lhe ferisse o coração

Al Berto
in O Medo

domingo, 7 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Diário

Seja o que for
Será bom.
É tudo.

Daniel Faria
in Poesia

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drumond de Andrade

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

estado de graça

...a aflição é um estado de graça porque na aflição nos aproximamos do que não somos e isso pode salvar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Um dia de chuva

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.

Alberto Caeiro

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Hummmm

maravilhar-te as insónias
com o paciente crepúsculo da idade
acordar fora do corpo esquecer o olhar
sobre o pêlo ruivo dos animais beber
o fulgor das estrelas no esplendor da alba
nomear-te
para recomeçarmos juntos a vida toda

ensinar-te o segredo dos alquímicos minerais
acender-te um pouco de culpa
na imatura paisagem do coração

eis a travessia que te proponho
amanhecer sem querermos possuir o mundo
e no orvalho da noite saciar o desejo adiado
respirar a música inaudível das galáxias
sentir o tremeluzir da água no medo na boca

o amor
deve ser esta perseguição de sombras
esta cabeça de mármore decepada
ou este deserto
onde o receio de te perder permanece oculto
na sujidade antiga dos dias.

Al Berto
in O Medo

domingo, 3 de outubro de 2010

PENUMBRA

Na penumbra dos ombros é que tudo começa
quando subitamente só a noite nos vê
e nos abre uma porta nos aponta uma seta

para sermos de novo quem deixámos de ser

David Mourão-Ferreira
in Obra Poética

sábado, 2 de outubro de 2010

há barcos para muitos portos...

Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça.

Fernando Pessoa

terça-feira, 21 de setembro de 2010

...nada fazer

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afecto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis,pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés.Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

sábado, 18 de setembro de 2010

Embalo

Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na idéia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.

Álvaro de Campos
excerto do poema Encostei-me

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

explicação da eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto
in A Casa, A Escuridão

Movimento contínuo

Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!

Álvaro de Campos
excerto de poema in Poesia dos Outros Eus

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A intenção de mim és tu

Tenho a sede das ilhas
E esquece-me ser terra
Meu amor, aconchega-me
Meu amor, mareja-me
Depois, não
Me ensines a estrada.
A intenção da água é o mar
A intenção de mim és tu.

Mia Couto

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CHEGUEI

Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
PORQUE EU CHEGUEI E É TEMPO DE ME VERES,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.

Sophia de Mello Breyner

sábado, 4 de setembro de 2010

sábado, 28 de agosto de 2010

sempre a contrariar o universo

Assim, vista de longe,
dir-te-ia
que esta história
só podia ser impossível.
Primeiro, as coisas aconteceram fora de tempo,
ainda que não o suficiente.
Também não ajudou
não termos encontrado o mesmo espaço.
Dos teus cinzentos sóis de Inverno
não era fácil conceber
o azul transparente dos meus mares.
Os teus jogos e os meus
não partilharam as folhas do livro da infância.
Os teus nomes e os meus
soam estranhos às crianças que fomos.
Nestas coisas da vida percorremos caminhos
que não se entrecruzavam.
Um dia até o acaso
deixou de ser perfeito. Talvez apenas um segundo.
Quando muito, um pouco mais.
E como vês,
aqui estamos
a olhar surpresos o nosso encontro
nesta inexplicável obstinação
em contrariar o universo.

Abel Murcia
in Em voz baixa

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

TU ÉS AINDA O MEU RELÓGIO DE VENTO

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.

Mas no tempo subjectivo
TU ÉS AINDA O MEU RELÓGIO DE VENTO
A MINHA MÁQUINA ACELERADORA DE SANGUE
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vento que muda as estrelas

Dias há,
em que o teu sorriso
é uma ilha perdida dentro de mim
e o teu nome
o vento que muda as estrelas
para o dorso das andorinhas.

Dias há
em que procuro os teus olhos
e silenciosamente te digo «meu amor»,
como se eles fossem peixes
e as palavras animais estranhos
capazes de turvar a paz
das grandes profundidades.

Isabel Meyrelles

terça-feira, 24 de agosto de 2010

24



Todas as vidas gastei
para morrer contigo.

Mia Couto

domingo, 22 de agosto de 2010

e tudo recomeça...

Estar contigo ao acordar, ver como
se abrem as tuas pálpebras, cortinas
corridas sobre o sonho, sacudir dos
teus lábios o silêncio da noite para
que um primeiro riso me traga o dia:

assim, amor, reconheço a vida que
entra contigo pela casa, escancara
janelas e portas, deixa ouvir os pássaros
e o vento fresco da manhã, até que voltas
para junto de mim, e tudo recomeça.

Nuno Júdice

domingo, 15 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

So I cross my heart and hope to fly

So I cross my heart and hope to fly
And fuck right off into the middle of the sky
Where no one can find me
Where no one can see
That would be my ecstasy

sábado, 24 de julho de 2010

segunda-feira, 19 de julho de 2010

You know I'll always wait

Don't you know I'll always wait
Each time you take a step
So rest yourself down here a while
Rest your sleepy little head

quinta-feira, 15 de julho de 2010

domingo, 11 de julho de 2010

sábado, 10 de julho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

às vezes é trágico

Mais um dia que acabou
Um dia calmo, indolente
E esta pessoa que sou
Sufoca, arde impaciente.

É uma quietude perdida
Uma agitação crescente
Que enche a alma, dorida
Que chora de raiva ardente.

E na garganta se prende
Este nó que vai crescendo
Que me fere, que me exaure
Numa dor que não entendo.

E esta fúria que não pára
Que a quietação apagou
Esta irritação insana
Nesta pessoa que sou,

Tem de recuar, de fingir,
De serenar, aquietar
De disfarçar, de sorrir...
E outro dia começar.

Celeste Pereira
in Bordar a Vida

sexta-feira, 18 de junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

7

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 5 de junho de 2010

Da maneira mais simples

É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.

Eugénio de Andrade
in Sulcos da sede

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Again

Socorre-me, devolve-me a leveza
Da tão primeira nuvem que avistares

Daniel Faria
in Poesia

domingo, 16 de maio de 2010

Good

DESacoitas-me

Espero por ti e já é tarde

Petrifico e choro e já é tarde

Apenas os versos são de mármore

É líquido o mais e dói-me a sede
Deste fogo aceso que não arde.

Daniel Faria
in Poesia

quinta-feira, 6 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Apontamento I

Chego ao teu corpo para conciliar o silêncio com a noite
e te deixar a paz nos braços para que possas adormecer.

Alexandra Malheiro
in Luz vertical

domingo, 2 de maio de 2010

I'm learning to fly, but I ain't got wings

Well some say life will beat you down
Break your heart, steal your crown
So I've started out, for God knows where
I guess I'll know when I get there

segunda-feira, 26 de abril de 2010

TOCAS-ME

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue o teu.

Mia Couto

sexta-feira, 23 de abril de 2010

TRY

so come over
just be pacient
and don't worry
TRY
TRY
TRY

terça-feira, 20 de abril de 2010

pois dói

Quero dizer-te uma coisa simples:
a tua ausência dói-me.
Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma;
mas que não deixa, por isso,
de deixar alguns sinais -
um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos.
Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto.
São estas as formas do amor,
podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples
também podem ser complicadas,
quando nos damos conta da diferença entre
o sonho e a realidade.

Porém, é o sonho que me traz a tua memória;
e a realidade aproxima-me de ti,
agora que os dias correm mais depressa,
e as palavras ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de mim -
e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Precisava da tua sombra sobre a minha sombra

Precisava falar-te ao ouvido
De manter sobre a rodilha do silêncio
A escrita.
Precisava dos teus joelhos. Da tua porta aberta.
Da indigência. E da fadiga.
Da tua sombra sobre a minha sombra
E da tua casa
E do chão.

Daniel Faria
in Poesia

domingo, 18 de abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

enxugar os olhos por rever-te

Se o regresso abrir o pesponto
Da nossa boca fechada

Se o silêncio for quebrado
Por chamar-te
E se enxugar os olhos por rever-te

Daniel Faria
in Poesia, excerto do poema O regresso dos rios da Babilónia

terça-feira, 13 de abril de 2010

Fundo do mar

Quero ver
o fundo do mar
esse lugar
de onde se desprendem as ondas
e se arrancam
os olhos aos corais
e onde a morte beija
o lívido rosto dos afogados

Quero ver
esse lugar
onde se não vê
para que
sem disfarce
a minha luz se revele
e nesse mundo
descubra a que mundo pertenço

Mia Couto
in Raiz de Orvalho e outros poemas

segunda-feira, 12 de abril de 2010

TAKE ME HOME

Um barco atravessou os teus olhos,
levando um porão de sonhos para o porto
do infinito.

Nuno Júdice

quinta-feira, 8 de abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sabe?

Também sei das coisas por estar vivendo.
Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe.

Clarice Lispector

terça-feira, 6 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

Ficamos assim

Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.

Nuno Júdice

domingo, 28 de março de 2010

4

Começa o tempo onde a mulher começa.
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
ÉS TU QUE ME ACEITAS EM TEU SORRISO, QUE OUVES,
QUE TE ALIMENTAS DE DESEJOS PUROS.
E UNE-SE AO VENTO O ESPÍRITO, RAREFAZ-SE A AURÉOLA,
a sombra canta baixo.

Herberto Helder
in O amor em Visita

quarta-feira, 24 de março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

brilho do olhar

Inventarei o dia onde contigo
e o outono corra pelas ruas.
A luz que pisamos é tão perfeita
que não pode morrer, como não morre
o brilho do olhar que te viu despir.

Eugénio de Andrade
in Poesia

segunda-feira, 22 de março de 2010

manhã

Estou
e num breve instante
sinto tudo
sinto-me tudo
Deito-me no meu corpo
e despeço-me de mim
para me encontrar
no próximo olhar

Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão
Nada me alimenta
porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira

A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios estiverem já mortos

Educadamente mortos

Mia Couto

sábado, 20 de março de 2010

Matar a sede com água salgada

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

sexta-feira, 19 de março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Inicio, Anuncio, Denuncio

Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo

Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio

Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces

Mia Couto
in raiz de orvalho e outros poemas

terça-feira, 16 de março de 2010

3

Procuro entender como é que moldas
Os meus pés ao equilíbrio que os desloca no chão
Sei que és tu que me levantas
Que remendas o meu corpo cada dia

execerto de um poema de Daniel Faria
in Poesia

segunda-feira, 15 de março de 2010

A minha cabeça encostada ao teu peito

Caminaré ciego, porqué sé que miras

Dime con tus dedos
Que no habrá más peros
Que siempre seremos
Mientras nos toquemos

Facto Delafé y las flores azules

sexta-feira, 12 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Nocturno

Espasmo del cuerpo, cuando entras en la noche
y el viento nocturno que alterará la meteorología.
De pie junto a una gran ventana victoriana
(pesados estores y un pedazo de un grand piano),
a tus espaldas las primeras estrellas
y las móviles dunas de un sol que se apaga.
Te gustaría quedarte así, permanecer en el aire
entre el silencio de la habitación y tu mañana,
existir como esa blanca mariposa al otro lado del cristal
a la luz del atardecer. Deseas (deseo)
que el mundo sea siempre así como
es cuando llena el vacío que dejas.

Abel Murcia

Come and see...

terça-feira, 9 de março de 2010

2

Amo-te como um planeta em rotação difusa
E quero parar como o servo colado ao chão.
Frágil cerâmica de poros soprados no teu hálito
Vasilha que ergues em tua mão de oleiro
Cálice que não pudeste afastar de ti.

Daniel Faria

in Poesia

segunda-feira, 8 de março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

tu, sonho

Um cair de cabelos nos teus ombros,
um suspiro preso à lembrança que
ficou, um brilho que se demora nos
olhos à janela, um eco que não passa

na memória de um murmúrio, o
abraço em que o tempo se suspende,
a voz que dança por entre ruídos e
silêncio, as mãos que não se libertam

num gesto de despedida, lábios que
outros lábios procuram, uma luz
que alastra na sombra que desce,

e uma sombra que se ilumina quando
a noite já cresce: tu, sonho que
faz real a realidade com que te sonho

Nuno Júdice

terça-feira, 2 de março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

insustentável INDEFINIÇÃO do ser

entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas
e magias recortadas dos sonhos que acontecem naturalmente.
eu sou a cama onde me deito, todas as noites diferente,
eu sou o sorriso estridente dos pássaros no céu todo,
eu sou o mar, o oceano velho a abrir a boca numa
gruta que assusta as crianças e os homens que conhecem
o mundo. eu sou o que não devia ser e rio, rio,
rio, porque sou puro, porque sou um pouco de alegria,
porque mil mãos e dez mil dedos me percorrem o corpo
e me beijam. entre mim e o meu silêncio há uma
confusão de equívocos que não entendo e não admito.
sou arrogante, porque sou do país em que inventaram
a arrogância. sou miserável. que sei eu? sou um viajante
com destino traçado, como o fumo deste cigarro que
desaparece indeciso e já esqueceu de onde veio. e rio,
rio, rio, perdido e desalmado, de dentes sujos e quase
doente, porque minha é esta esperança e esta vontade
de nascer em cada manhã, em cada rosto, em cada
fósforo acesso, em cada estrela. rio, rio, rio, porque meu
é o amor e o luto e a fome e todas as coisas
que fazem esta vida que não entendo e persigo.
eu sou um homem vivo a sentir cada pedra,
eu sou um homem vivo a sentir cada montanha,
eu sou um homem vivo a sentir cada grão de areia.
desordenadamente, eu sou alguém que é eu sem o saber,
entre mim e o meu silêncio há um desentendimento
esculpido nas flores e nas nuves, rio, rio, rio,
eu sou a vida e o sol a iluminar-me.

José Luís Peixoto
in a criança em ruínas

domingo, 28 de fevereiro de 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

30 dias

O QUE DÓI
É NÃO PODER APAGAR A TUA AUSÊNCIA
E repetir dia após dia os mesmos gestos

O que dói
É o teu nome que ficou como mendigo
Descoberto em cada esquina dos meus versos

O que dói
É tudo e mais aquilo que desteço
Ao tecer para ti novos regressos

Daniel Faria
in Poesia

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ou preciso?

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão-Ferreira
excerto do poema Paraíso in Obra Poética

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

...te repete

...e eu gostava que
soubesses sempre que um lamento dentro de mim
te repete...

José Luís Peixoto

1

Amo-te no imenso tráfego
Com toda a poluição no sangue.
Exponho-te a vontade
O lugar que só respira na tua boca
Ó verbo que amo como a pronúncia
Da mãe, do amigo, do poema
Em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
Dos teus lábios.
MOLDA-ME A PARTIR DO CÉU DA TUA BOCA
PORQUE PRESSINTO QUE POSSO OUVIR-TE
NO FIRMAMENTO.

Daniel Faria
in Poesia

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Confidência

Nas pálpebras
da noite
Chorei
cadências
que me ensinaram
que o Amor Ama-se

Assim teus
Olhos.

Daniel Faria
in Poesia

Inventar de novo

às vezes o amor é inventar de novo
as iluminações de vogar à deriva
É sequestrar o dia É caminhar de noite
numa rua de Roma a comer melancia
É fazer explodir um palácio barroco
É durante a explosão cair numa armadilha

David Mourão-Ferreira
in Obra Poética

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Procuro

Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria
in Poesia

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tu

A luz que vibre
sobre o teu rosto
O mar que oscile
sob os teus ombros
O que me atinge
vem de mais longe

lá dos confins
em que te sonho.

David Mourão-Ferreira


Embrance - Nature's Law

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Poderia

Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.

Daniel Faria
in Poesia

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

One by One

While the mountains stare at the face of the sun, the sky smiles down on everyone. We all wonder what we could have done, we end up passing, one by one.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Mário Cesariny

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade
in O outro nome da terra

sábado, 13 de fevereiro de 2010

You and me together, we could do anything

Hoje

tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu tanto eu tanto tu

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

...e nunca deste senão a mim

dá-me alguma da tua pele terra
tu que não me pedes nada e
me apareces de noite vestida de
nudez pele terra e me abres caminhos
para que te conheça dá-me algum
do silêncio que me dás para que
nele te diga pele terra se de noite
me apareces iluminada de muitos
pássaros a nascer e a voar a
nascer e a voar silêncio pele terra
para que te conheça dá-me o que
dás a todos e nunca deste senão
a mim pele terra tu que me dás
os gestos das minhas mãos
a música das minhas palavras que
me dás pele terra esconde-te
dentro de mim

José Luís Peixoto
in A criança em ruínas

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lección de existencia

He aprendido a compartir tu ausencia
con mi sombra, el vacío
que deja el tacto inexistente de tu mano
en al mía, el silencio de tu voz
al otro lado de ningún teléfono,
esa ciega mirada de todos los objetos
que ocupan tu lugar.
He aprendido a dejar de ser tan yo
por ser un poco tú.
Me asusta sentirme rodeado de tu nada.

Abel Murcia

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Dá-me de beber

Vem.
Chega-te aqui.
Bem perto de mim.
Não digas nada.
Olha-me apenas.

Sente-me!

Filipe Paixão
excerto do poema Olha-me in Palavras de mim

All flowers in time bend towards the sun...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CREIO

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E agora?

Nunca pensei que a morte vinha,
Nunca mais me lembrei que era da vida,
E que a vida me havia de vender.
E pequei,
E sonhei,
E sorri,
Sem me lembrar que a morte vinha...

Ary dos Santos
excerto do poema Instante in Obra Poética

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tenho uma caixa vazia

farei do coração uma
caixa vazia, esperarei que se
compadeça apenas com pequenas
ervas e miniscúlos bichos à procura
do escuro e da aspereza da pedra.
e para mais nada servirei.
não serei sensível a coisa alguma e,
sem equívocos, a culpa será
toda tua, porque me disseste que
ficavas mas foste embora
dentro do coração, talvez, de tão
grande aridez, poderá surgir um
amor pela seca existência das
areias...

Valter Hugo Mãe
in Pornografia Erudita

domingo, 31 de janeiro de 2010

Permanecerás eternamente...Lina

Em jeito de homenagem aqui ficam algumas das palavras que gostavas.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

C O I N C I D E N C E

Coincidence,
Makes sense,
Only with you,
You don't have to speak,
I FEEL.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Hoje nada tenho para te dizer

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Florbela Espanca

domingo, 24 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Coração ao léu

não digas mais nada
deixa que este sentimento de estupidez (me) passe
e o coração volte a vestir-se

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Your eyes... they turn me

Esperando-te
como quem espera de ti
a liberdade
ou a conquista
de um rasgo de céu
ou de uma aresta
do mundo
ainda por limar.

Alexandra Malheiro
in Luz Vertical

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Voltar tudo ao lugar

Passar a limpo a Matéria
Repor no seu lugar as cousas que os homens desarrumaram
Por não perceberem para que serviam
Endireitar, como uma boa dona de casa da Realidade,
As cortinas nas janelas da Sensação
E os capachos às portas da Percepção
Varrer os quartos da observação
E limpar o pó das ideias simples
Eis a minha vida, verso a verso.

Alberto Caeiro

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Just for tonight

AMA COMO A ESTRADA COMEÇA.

Mário Cesariny

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

CRUSH

ontem, ao ver-te, descobri que não
aprendi nada quando corri o mundo. o que é um olhar?

José Luís Peixoto
excerto do poema A Escrava
in A Casa,a Escuridão


Crush Dave Matthwes Band

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

I want you not to go....but you did

não tem de ser triste. às vezes, o tempo parte. nós ficamos.
vemo-lo ao longe, afasta-se devagar, e não tem de ser triste.
hoje, eu caminho na direcção do passado. tu caminhas para
o futuro. a noite. depois desta noite, para mim, será ontem.
(...)
não tem de ser triste. vamos separar-nos agora. este instante,
agora, será o teu passado. este instante, agora, será o meu futuro.

José Luís Peixoto
excerto do poema Separação do Príncipe e da escrava
in A Casa, a Escuridão


Stay or leave - Dave Matthwes

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

hoje, sou um pouco de alguma coisa

como não tenho lugar no silêncio onde morrem as gaivotas,
despeço-me no oceano e deixo que o céu me conheça.
talvez a serenidade possa ser as minhas mãos a serem uma
brisa sobre a terra e sobre a pele nua de uma mulher.
esse dia, esperança de amanhã, poderá chegar e estarei dormindo.
hoje, sou um pouco de alguma coisa, sou a água salgada
que permanece nas ondas que tudo rejeitam e expulsam
na praia. as gaivotas sobrevoam o meu corpo vivo. os meus
cabelos submersos convidam o silêncio da manhã, raios de sol atravessam
o mar tornados água luminosa. aqui, estou vivo e sou alguém
muito longe.

José Luís Peixoto
in Criança em ruínas

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

I don't miss you... much

Don't keep in touch, I don't miss you much
Except sometimes early in the morning
(...)
Did you ever believe the lies that you told?
Did you earn the fool's gold that you gave me?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Segue

Podes ter tudo o que queres
MAS ÉS DEMASIADO DISCIPLINADO PARA SER LIVRE?

excerto do poema Segue de Adrião Cunha
in Poemas suados a negro

sábado, 9 de janeiro de 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Dentro do corpo

A noite põe-se toda dentro do corpo.
Meu amor, a noite põe-se toda nos olhos.
A noite põe-se na rua.

Toco a tua língua a saliva da boca da noite tão húmida e tão fria que
sabe ao destino ausente das coisas. A noite põe-se toda no teu corpo.
Põe-se toda nos teus olhos...

A noite fica na rua e põe-se toda no teu corpo.

José Fernando Lobo
in No chão das palavras

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

QUANTO?

Nas minhas mãos
a pálida certeza do teu corpo
preso entre os meus dedos.

QUANTO TEMPO MAIS SERIAS MEU
FECHADO ENTRE AS SEGURAS PAREDES DO MEU BEIJO?

Alexandra Malheiro
in Luz Vertical

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

JUST SAY YES

I can feel your heart beat through my shirt
This was all I wanted, all I want

It's all I want

I'ts all I want

It's all I want

Snow Patrol

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Pensar em nada...

Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e refluxo da vida.

Álvaro de Campos

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

These days

Nothing is worth more than this day.
Goethe